80 anos de José Heitor

80 anos* de José Heitor da Silva

Do barro à madeira

                                                            Heitor José da Silva

(José Heitor completou 80 anos em 14 de novembro de 2017)

Foto: Acervo entrefotoseletras

*José Heitor completou 80 anos em 14 de novembro de 2017

É, pai! O senhor está mais velho? Melhor dizer que não! E, sim, mais experiente, mais maduro - como um fruto. Para ser devorado? Eu também posso dizer que não. E, sim, para ser apreciado!

Como o tempo passa rápido! No entanto, nota-se que você valorizou cada minuto desses oitenta anos de vida! Além disso, você já tem mais de cinquenta anos prestados à Arte; pois, aos vinte e quatro anos de idade, iniciou esta jornada artística.

Há três anos, Deus lhe deu a oportunidade de comemorar seus 50 anos de Vida Matrimonial. 

Houve momentos de muitas dificuldades na infância, mas a vontade de superar os obstáculos sempre foi maior.

As primeiras brincadeiras como menino, a paixão tão cedo despertada pelo futebol, o ingresso no time de garotos e, enfim, o time principal - aliás, foi mais de um. Paralelo ao futebol, o gosto pela música. E, então, durante alguns anos, você fez parte da Banda Sete de Setembro.

Porém, Deus tinha algo mais sublime para você. E, um dia, você se viu moldando alguns bonecos de barro, que, mais tarde, iriam se transformar em imensas obras em madeiras.

E tudo começou após uma noite de tempestade. O barro que passou por debaixo da porta do pequeno quarto onde o senhor morava foi sua matéria-prima. Do barro às diversas obras em madeira, uma grande evolução. Então, percebendo que algo diferente o motivava a lidar com a madeira, você abraçou com entusiasmo essa nova realidade, produzindo as pequenas esculturas, que nem sempre saíam como você desejava, mas a busca por um resultado melhor sempre foi algo marcante em sua personalidade.

Um certo dia, mostrando uma simples criação sua à então Diretora da CNEC, Else de Deus Pimenta Brandão Ferreira - que já não se encontra entre nós - você ouviu uma sugestão que acatou, nascendo, portanto, sua grande incentivadora!

Então, surge o artista e, com o decorrer do tempo, torna-se conhecido não só em Além Paraíba, mas também em outras cidades do Brasil e do exterior.

Com sabedoria, soube conciliar o exercício de ser artista com o de ser esposo, pai e funcionário da Rede Ferroviária Federal.

A mulher guerreira, Nilda Pereira da Silva, foi sempre sua fiel companheira, fazendo valer o velho ditado que diz: "Atrás de um grande homem, existe sempre uma grande mulher" - apesar de sua estatura! Minha mãe, com certeza, é a maior responsável pelo sucesso de meu pai, sem deixar de lado o talento do artista. Os gestos, as palavras, nem sempre suaves, mas eu também agradeço a ela pelo que sou.

Pai, é possível que, um dia, Deus tenha dito: "Este é o cara! Vá e mostre ao mundo o que lhe dei, deixando todos encantados". Certamente, você tem mãos abençoadas pelo Divino.

Quanto aos talentos, tem mais de um, pois, além de escrever na madeira, possui o dom de escrever no papel, fazendo-se poeta.

E os seus cabelos brancos? Acho que não vão mais aparecer.

Com o passar do tempo, é normal que o corpo, agora franzino, não seja tão forte como antes, mas é preciso que, mesmo com passos lentos, caminhe para algum objetivo.

Essa voz cansada... Não! A sua voz sempre esteve firme e afiada, também para uma correção a alguém.

Bem cedo, aos sete anos, você começou a despertar-se para o que era belo. E pensava: "Eu posso ter algo de bom a apresentar também".  Pensava desse jeito, olhando as esculturas expostas de forma permanente no Jardim de São José. Começou a fazer esculturas pequenas, mas já disposto a mostrar a beleza. E sempre cobrando de si mesmo. Com o passar do tempo, as esculturas foram crescendo em tamanho, como filhos que crescem alimentados pelo zelo, pelo carinho, pelo amor. Aliás você gosta de dizer que se sente "mãe" das esculturas, pois foram "geradas" por você.

É bom lembrar que não teve formação acadêmica e, sim, foi contemplado pelo dom divino. Já houve caso de alguém perguntar se algum filho do José Heitor tem o mesmo  dom do pai de fazer esculturas. Mas as coisas nem sempre acontecem de acordo com a nossa vontade.

Noto que você corta a madeira com gosto, ou seja, com vontade, entusiasmo e satisfação; enriquecido de paciência, bom senso e inteligência. E tudo isso até o formato final da madeira, que agora tem o nome de Escultura, muitas vezes trazendo uma mensagem. Seria, então, a madeira um brinquedo em suas mãos? 

Algumas de suas obras:

• Energização;
• Raízes;
• Mãe Flora;
• Fauna e Flora;
• Simbiose;
• Equilíbrio;
• O Ninho;
• Adão e Eva;
• Chamego;
• Sodoma e Gomorra;
• Mundo Cão;
• Vergonha;
• Simpatia Carrancuda;
• Caminhante;
• Nosso Senhor dos Passos;
• Ascensão;
• Carijó;
• A Mendiga;
• Prece da Pobre Gestante;
• Drama de Mendigos Negros;
• Pesadelo;
• Peixe;
• O Pescador;
• A Luta;
• Sagrado Coração de Jesus;
• Ídolo Sentado;
• Erga-te;
• Boi-Bumbá;
• Estrela Cadente;
• Presépio;
• Folia de reis;
• Os Músicos;
• Santa Ceia;
• Cristo Crucificado;
• Proteção;
• São Sebastião;
• São Jorge;
• Santa Teresinha;
• Nossa Senhora das Graças;
• Santa Bárbara;
• Santa Apolônia;
• São Miguel Arcanjo;
• São José de Botas.

    Totalizando, mais ou menos, setecentas obras produzidas.

      

        E toda essa "jornada de um homem simples" virou livro de igual nome.

        "Pai, você foi meu herói, meu bandido. Hoje é mais, muito mais que um amigo. Nem você, nem ninguém tá sozinho. Você faz parte desse caminho que hoje eu sigo em paz".

        Parabéns, felicidades, paz e ainda mais anos de  ida, desejados pelos familiares, amigos e admiradores!

        Que Deus o proteja e ilumine sempre

        Obrigado por você existir!

                                                  Heitor José

Heitor José é filho do escultor além-paraibano José Heitor da Silva

Para informações sobre Heitor José, clique aqui

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