D'Souza

Jorge José D'Souza

Foto: Thiago Bastos

Há anos Além Paraíba vem ganhando novas cores, texturas e formas: Jorge José permitiu que D’Souza nascesse aqui. Filho de Eugênio de Souza e Mathilde Gonçalves de Souza, o artista ainda vive na casa da Praça da Bandeira que o acolheu em 27 de fevereiro de 1945. Seu talento se revelou nos riscos que o menino de doze anos fazia no chão de terra com um triângulo de ferro e, depois, nos trabalhos em papel. O começo de sua atividade artística é resultado de uma conversa do pai com Rolando Amaral. A partir daí, ele se tornou membro do Grupo Cruz e Souza, movimento cultural da década de 70 inicialmente comandado pelo escultor José Heitor, por Darci Policarpo e Rolando.

Após várias exposições e reuniões, muitas delas em sua casa, o grupo foi extinto. "Eufórico" para mostrar a sua "verdade", ele prosseguiu. Escolheu expor na Galeria Perácio, "porque ali cabia todo mundo: o pobre, o rico, o preto, o branco". Com o reconhecimento, novos espaços surgiram. Na cidade, D'Souza foi convidado por Paulo César Binato, que muito o ajudou, a realizar trabalhos e exposições no Rex Clube. Lá o resultado financeiro era melhor, mas nem por isso ele abandonou a Galeria. Na Praça dos Imigrantes, "Seu D'Souza" pintava para as pessoas verem. Sua Arte também ornamentou as ruas de Porto Novo para alguns carnavais dos anos 70.

Sua obra, que ganhou o mundo: Estados Unidos, França, Holanda, Inglaterra e Índia, também nos apresenta, em meio à poesia e à pobreza, gente encarnada em seus Amigos de Miséria.  




Foto: Reprodução 



Amigos de Miséria testemunham a existência de uma Além Paraíba Cultural, período em que foi possível, segundo D'Souza, "a gente ter acesso a pessoas de elevado nível cultural". 

Estas obras podem ser entendidas como um marco entre o que o povo viveu, como exposições de quadros ao ar livre, e a falta de acesso à Arte.

"É muito triste a gente ter que pensar e conceber que, hoje, as autoridades não se preocupam que a Arte é o início de tudo, que o povo precisa disso demais, que viver sem a arte é viver sem a água que a gente bebe, porque a Arte nos traz, assim, diversos caminhos e o povo está perdido num desses caminhos..." (D'Souza)

 D'Souza em seu ateliê, na casa da Praça da Bandeira.
 "O artista não pode parar. A minha cabeça é um engenho de coisas que vão e voltam de forma diferente." 
                                                                         

(Obra inacabada - Foto: entrefotoseletras) 
"Eu procuro trazer nos meus quadros as minhas lavadeiras, essas coisas que me fazem, assim, voltar pra essa gente..."

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Texto baseado em uma entrevista com D'Souza, que me recebeu em sua casa na tarde de 15/julho/2022. Outras fases do artista serão mostradas em publicações futuras. 

As fotos dos Amigos de Miséria são reproduções do acervo de D'Souza.

Falaremos sobre o Grupo Cruz e Souza em outra publicação.

Comentários

  1. D'Souza, arte e sensibilidade de colorir a vida.
    Paulo Martins Rodrigues.

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    1. Paulo, a Vida fica mais bonita quando colorida por nossos artistas! D' Souza com suas tintas; José Heitor com a energia de suas escritas na madeira e você, bem como os/as demais poetas, com versos que traduzem a vida, que nos traduzem. Gratidão!

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  2. É importante divulgar os artistas alemparaibanos: pintores, escultores, poetas, músicos... Além Paraíba tem talentos que precisam ser valorizados.
    Jorgede Souza é um desses grandes talentos! ( Wallace Cunha)

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    1. Wallace, nosso blog já ganhou alguns colaboradores ,e desejamos que esse número cresça. Você pode nos ajudar sugerindo nomes/trabalhos para divulgarmos. Mto obrigada!

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    2. Sonia, vc já pensou em escrever sobre os atletas que levaram o nome de Além Paraíba a ser conhecida no País?

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  3. Quando o meu olhar, a minha escuta, o meu sentir e o meu crer pousaram sobre a sua obra, importaram movimento, vivência pertencida, saudade, tristeza, partida, permanência, transcendência... Entrei no carrossel das humanidades, reveladas, suponho, pela intensa, densa e sensível percepção da vida. O que morou em você se apresenta na tela com um sopro de comunhão de vidas. Nela habita parte do seu sopro de vida e os sopros colhidos das vidas externas. Sua obra é concretude de suas leituras e percepção sensíveis, do exercício dos sentidos, por isso cabe a transcendência.

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