Fotografar



Thiago Bastos é Historiador
 e Professor. 
Foto: Mariana Gomes

Fotografar-se

Fotografar. Fotografar-se.
A única coisa que não envelhece.
A única coisa que não amarela.
São lembranças. E lembranças sobrevivem.
Lembrar, relembrar, analisar.
"Imprimir o rosto no papel,
Um jeito novo de ser imortalizado".
Como um fantasma,
A foto não envelhece:
Vaga, vaga e vaga pelos cantos
Da casa, até ser descoberta.
Então se percebe que aquela fotografia
Tirada ontem já tem dez anos.
Você envelheceu, perdeu um pouco das forças.
E sente que vai chegar a sua vez 
De vagar, vagar e vagar.
Só que você não será encontrado.
                                                                 Thiago Bastos de Souza

Thiago Bastos apresentou-me  Fotografar-se em 2005, para que eu o inscrevesse em um festival de poesias. Classificados em primeiro lugar na categoria Ensino Médio, o jovem poeta seguiu; o poema, esquecido, passou a habitar um caderno que resolvi folhear há pouco tempo. Nas entrelinhas de seus versos, pus-me a procurar o ex-aluno que ainda hoje me proporciona reflexões: Se lembranças sobrevivem, por que nos perdemos? Não será mesmo possível nos encontrarmos nas fotos que, em dias de coragem, conseguimos revisitar?

A dificuldade de respostas tem sido motivo para prosseguir e abraçar outras vivências, a fim de entender por que não serei encontrada. Uma delas, partilhada pelo poeta Manoel de Barros: "Passei anos me procurando por lugares nenhuns. Até que não me achei - e fui salvo. Às vezes caminhava como se fosse um bulbo.", ampliou minha compreensão não apenas sobre a foto "que vaga pelos cantos", mas também quanto aos papéis que, desempenhados anonimamente, não nos tornam desimportantes  para a vida.

Fotografar. Imortalizar. Vagar. São nossas essas questões. E você, consegue se encontrar em suas fotografias e/ou lembranças?  

Siga-nos no instagram@bastosrt 


Referência

BARROS, Manoel de. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.




Comentários

  1. Fiz uma bela viagem no meu mundo interior.maravilha! GILBERTO Machado

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  2. Me fez chorar! Como quando vejo fotos antigas. Me pergunto: quando foi que me perdi dentro de mim? Sigo procurando respostas e como no texto, é um vagar. É mais doído que envelhecer. Talvez a resposta esteja na eternidade da alma. Vou ter que esperar, até lá... Vou vivendo.

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    1. Gilmara, será mesmo que nos perdemos? Ou nos transformamos?

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  3. Maravilha! Profundo, reflexivo. O que me diz mha foto????

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  4. O poema “Fotografar-se”, de Thiago Bastos, revela poder, encantamento e a cumplicidade dessa arte com o tempo presente. A fotografia é comprometida com o tempo. Ela o aprisiona. O tempo se ocupa em gastar-se; mas não o consegue na fotografia. O poeta destaca: “Um jeito novo de ser imortalizado”. Ao comer uma fotografia, a traça a destrói com toda a inteireza daquele momento. Tudo intocável!!! A fotografia é refúgio do tempo e é refúgio no tempo. Ele é refém da fotografia e ela, dele - convivialidade! O álbum humano que se é transmuta a cada segundo, índice inumerável. Como nos encontramos? "Tudo muda o tempo". Padre Antônio Vieira, em " Amor Menino", segue dizendo: “Atreve-se o tempo a colunas de mármore!?” Perdemo-nos porque somos somas e perdas transmutadas. (Penha Bernardo Alves)

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    1. Penha, cada frase sua nos convida à reflexão! Enfim, se somos perdas transmutadas, precisamos nos descobrir.

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  5. Amo ver fotografias ! Recordar tbm é viver ! Ana Beatriz.. ( Bia)

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  6. Thiago conseguiu, neste poema, desvelar a transcendência da arte fotográfica, permitindo-nos vislumbrar algo de perene em meio às nossas experiências efêmeras. Parabéns, amigo!

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    1. Caro Ricardo, obrigado comentário. Não sou poeta, porém penso que não há maior satisfação que fazer da poesia um alimento compartilhado, por meio do qual aquele que a lê se sacia e, ao mesmo tempo, utiliza a oportunidade para nutrir outros leitores. Seu comentário é igualmente reflexivo. Da mesma maneira que te fiz pensar, você também provocou em mim reflexão. Abs.

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