José Heitor da Silva

      José Heitor da Silva


Falar sobre Zé Heitor é passar pela História de Além Paraíba-MG, com a possibilidade de nela imergir. É tornar-se ouvinte de histórias contadas na madeira por um artista que chegou a outros países, sem que o homem simples lá tenha pisado. É educar ouvidos e olhar para aprender a ler a vida em seus mínimos detalhes. Traduzi-los em forma de poesia ao simplesmente olhar um varredor de rua pela janela e ver nele um artista ou denunciar preconceitos, trabalho que "O Poeta da Madeira" vem realizando ao longo do tempo, sem rancores ou negatividade. Segundo ele, basta-nos entender que "O espírito de ‘Energização’ é essa cooperação, essa ajuda mútua, ajudar a quem precisa. É devolver com pétalas e não com pedras."

Zé Heitor é falante, embora tenha me ensinado que "O artista é do silêncio. Ele não vê, ele sente as coisas ao redor dele. O silêncio pra ele fala muito mais alto que a balbúrdia, eu acho." Esse silêncio, entretanto, foi mais uma vez contrariado em um bate-papo realizado com uma turma do oitavo ano do ensino fundamental da Escola Estadual Sebastião Cerqueira em 01/07/2010, a partir da obra "São José", o padroeiro da cidade, que ele levou para nos apresentar. Naquela ocasião, contou-nos: “Meu pai era ferroviário, mas existia pobreza. Minha casa era de chão. Meu pai colocou um assoalho de madeira, feito de caixas com propaganda, de entregar compras. Eu podia olhar para o chão e ler, por exemplo, gordura de porco Rio Grande do Sul. 

Esse relato, que não para por aqui, está nas anotações que tive a felicidade de fazer e me permite compreender a grandiosidade do homem e do artista, ao demonstrar, também por meio de sua fala, acreditar no ser humano e que, a despeito dos contratempos, a vida nos oferece possibilidades: “Quem sabe daqui não sai um cientista, um pedreiro, um carpinteiro. Tudo é arte! Nós somos o sal da Terra. Precisamos viver num mundo melhor, de participação.” Era dessa forma que ele conversava com os/as alunos/as. Zé Heitor diz que as mensagens são o acabamento de sua arte e sua obra não teria valor sem elas. "Sempre tem alguma coisa de poesia ai, não tem?" É dessa forma que ele encerra uma conversa.

Há em sua fala uma gradação que prende o ouvinte, como se ele definisse a sequência dos assuntos. O Barroco mineiro e a importância de Aleijadinho, Castro Alves, Cruz e Sousa, Victor Hugo e “Os Miseráveis”, Oscar Wild e “O Retrato de Dorian Gray”, Grande Otelo, Noite Ilustrada, os tangos de Gardel, as lutas pela sobrevivência, o preconceito sofrido, a felicidade que sente por ter nascido de negros, a criação e a importância do Teatro Experimental do Negro, por Abdias Nascimento, amigo e divulgador de sua arte, e os ilustres personagens alemparaibanos, como "Carijó", imortalizada por suas mãos, e João Boca Negra, uma promessa de arte, são alguns exemplos do que se conversa e aprende com ele.

Muito há para se falar sobre José Heitor da Silva, que se soube pássaro ao perceber que também podia voar. Ele entende ter ganhado uma “Luz com l maior”, da qual se utiliza para nos oferecer poesia, e se sente na obrigação de chamar nossa atenção para a fortaleza que existe dentro de cada ser e para a necessidade de todos descobrirem suas asas. Mas essa história fica para o próximo texto sobre Zé Heitor, que me disse, em nossa última conversa ao telefone, estar recolhido em seu ateliê, entre seus livros e novos projetos. O artista continua preparando voos, certamente maiores do que os observados por ele ao final de cada trabalho realizado nas escolas, quando me olhava e dizia: "O Pássaro Negro está voando!"

Siga-nos no instagram@bastosrt 

Comentários

  1. Dignificante ler a história desse grande artista. Triste em ver que não vejo continuidade através de outras pessoas, em seguir esse talento. Mas, o legado fica, o artista é imortal. Parabéns pelo texto ����������������������������

    ResponderExcluir
  2. Ele me representa!Que história incrível de vida.Que o pássaro negro continue voando...

    ResponderExcluir
  3. Admiração, respeito, gratidão. Sua obra iluminando nossa terra.👏👏👏🎆

    ResponderExcluir
  4. O Artista José Heitor nos faz lembrar em que era estamos vivendo; era da criatividade.

    ResponderExcluir
  5. Tive o prazer de conhe‐-lo através de vc, e assim me encantar com tanto talento, simplicidade e sabedoria!! Parabéns pela postagem!!👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼

    ResponderExcluir
  6. Linda a história desse grande e talentoso artista!

    ResponderExcluir
  7. Bom dia! No momento que estamos vivendo,o recomeço de tudo,a obra,pode ser um novo paradigma,pois hoje mais do que nunca temos que buscar na arte uma nova concepção de vida.A arte do cuidado.
    Beto Lima

    ResponderExcluir
  8. Trata- se de um grande artista e que precisamos valorizar o seu trabalho.
    🌿🌷🌿🌷🌿🌷🌿🌷🌿

    ResponderExcluir
  9. Meu amigo Jose Heitor, muito elogiado e pouco valorizado. sempre digo isto para ele, puro talento, autodidata ao contrário de mim que aprendi com grandes mestres em grandes cidades. Mas, não tenho o talento que ele tem....Carlos Roberto Alves de Oliveira o Bybeto

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Qualquer parte deste blog pode ser compartilhada, desde que citada a fonte:
entrefotoseletras.blogspot.com

Postagens mais visitadas deste blog

Maria da Bolsa

Luiz Heleno

Vera e Tânia