Beto Soares

A Consciência do Cuidado

Post enviado pela Professora Débora Azevedo

Cuidado. Com essa palavra defino Beto Soares, o presente que minhas amigas Águida Elisa Ribeiro, Penha Bernardo e Val Breçam me ofertaram quando, no final de 2012, deixei o extinto Colégio Jamapará para ser professora no CIEP 285 - Luiz Daflon Gomes, também situado em Jamapará (Sapucaia/RJ). A aprovação de seu olhar atento, que conseguia ver em nós a vontade de transformar por meio da Educação, era o passaporte de que precisávamos para termos nele um companheiro de todos os projetos que pensássemos desenvolver com nossos alunos. 

Foram vários saraus, projetos de leitura, contações de histórias... nas salas de aula, na biblioteca... O exercício de sua consciência negra nos ajudava a exercer a nossa, não só durante as atividades realizadas a seu lado no mês de novembro, mas ao longo dos anos letivos, observando suas atitudes com relação aos/às estudantes, para quem ele era referência. Hoje entendo sua voz mansa, que tanto combinava com seu inseparável violão, como o reflexo de sua maneira cuidadosa de olhar para a vida. Sua forma educada de conviver poderia ser dicionarizada como sinônimo de gentileza. 

 Nosso amigo partiu em 24 de dezembro de 2020. Para aprender a viver com Saudade, temos procurado praticar um pouco do muito que com ele aprendemos. Esse é o motivo da homenagem que as Professoras Águida Elisa Ribeiro, Penha Bernardo, Val Breçam, Débora Azevedo - ex-aluninha de Beto e atual Diretora da Escola do Bairro Vale da Ternura (Sapucaia), trazida para este grupo por Val -, o Professor Thiago Bastos e eu aqui apresentamos.                

                                                              

                                                     Consciência Negra

Da esquerda para a direita: Patrícia Faustina, Penha Bernardo, Rosângela Sendon, Sonia Thiago Bastos, José Roberto Soares, Thiago Bastos (Acervo Águida Elisa)

"O ano era 2013 e eu tive o prazer de ser convidado para debater com ele e mais alguns professores temas relacionados ao racismo. Como sempre, o seu manuseio do violão impunha aos que escutavam um charme especial. A vida foi ficando cada vez mais cheia de compromissos e quase não nos encontramos mais, ainda que eu me lembrasse sempre daquela ocasião. Querido, foi um prazer!" 

(Professor Thiago Bastos)

Betinho                                      

Com Míriam Silveira

Com Águida Elisa e Marise Gonçalves

"Falar de José Roberto Soaress, de Beto Soares, de Betinho é falar de alegria, de simpatia, de carisma, de empatia. Beto era divertido, era muito amigo, culto, talentosos e muito família. No decorrer desses 26 anos que trabalhamos juntos, tornou-se um grande amigo, companheiro de jornada profissional, parceiro de Projetos, de eventos de Leitura e Música. Ríamos, discutíamos, brincávamos e nos respeitávamos muito! Que falta Betinho faz! Era puro sorriso!

E como os alunos gostavam dele, da companhia dele, dos bate-papos! Ele sabia ouvir, entender cada um! Sempre muito observador, dizia-me para ouvir mais e falar menos. Esperar o momento certo para falar. Beto era intenso. Desse jeito! Termino com um fragmento da música de sua autoria, Ferina: '... cuida do seu, esquece o que é meu. Eu quero apenas ser feliz do jeito que eu sempre quis...'" (Águida Elisa)

(Foto: Águida Elisa)

Ao meu inesquecível amigo

"Quando eu o conheci

Agradeci ao Criador

Que pessoa especial

Como enalteceu o meu valor

Daquele dia em diante

Verdadeiros amigos nos tornamos

Nos bancos dos ônibus e das escolas

Elaborávamos projetos de crescimento humano"

(Val Breçam)

                                                                                    

  José Roberto Soares

 "Nosso eterno 'pescador de ilusões', de talentos, de amizades..."(Águida Elisa)

     Beto Soares, Val Breçam e amigos do CIEP Luiz Daflon

Foi semente

Eu o conheci jovem

Como todo ser 

Trazia suas histórias, suas marcas

Visíveis e invisíveis

Bem visível, a cicatriz escrita na face

Os ideais de uma sociedade mais justa

E igualitária

O que ainda não aconteceu

Mas a viu a caminho não só

Na singularidade da sua Dandara

Como também de outros jovens

Adolescentes, crianças

Por ele, afetados

Com seu comprometimento 

E encantamento pela vida!!!

Abraçou, com sua amorosidade,

A escassez de dignidade humana próxima

Fez sua parte!

Contribuiu na pavimentação dessa estrada

E presenteou o mundo com Dandara

Já alicerce na construção

De um melhor futuro

Os anos passaram

Reencontro

O sorriso, desobediente à rigidez dos anos

Permaneceu menino

Suas lágrimas, agora conhecidas

Sempre enlaçadas à emoção

Era um espírito sensível!!!

E, no rosto do companheiro de jornada,

Cadê as cicatrizes, antes visíveis?

Meu companheiro de jornada

Era um incorrigível empático

Um incorrigível cavalheiro!!!

Imprimiu em nossas existências

A ressignificação de suas cicatrizes

O cuidado com a dignidade da pessoa humana

Sua singularidade amorosa

O homem de paz

Seu amor à família, que era sua âncora

Seu tesouro!!!

Era mais do que se via!!!

Foi Semente!!!

(Penha Bernardo)

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